Em 1987, após me formar Bacharel em Desenho na UFRGS, durante o período de um ano frequentei o MAM, atelier de litografia de Porto Alegre, sigla formada pelas inicias dos nomes de suas artistas fundadoras: Marta Loguércio, Anico Herskovits e Maria Tomaselli.
Abrigado no térreo bem iluminado de um antigo casarão da rua Lima e Silva, na Cidade Baixa, além de todo o equipamento necessário (prensa, pedras, rolos, químicos etc.), contávamos com a experiência, perícia e paixão da Anico, nossa brilhante professora, e da expertise do também excepcional Otávio Pereira, gravador de grandes artistas como Iberê Camargo – que, aliás, esteve entre nós em pelo menos uma ocasião, quando Otávio realizava para ele algumas impressões.
Lá, pude experimentar um pouco dessa incrível técnica de gravura sobre pedra – uma pedra especial que retém a gordura – e me encantar com seu complexo processo de realização que permite os mais diversos efeitos e resultados.
Eu frequentava o MAM junto com minha amiga Adriana Arioli – que eu havia conhecido anos antes no Instituto de Artes. Lembro que, até por ter noção de que eu apenas aprenderia muito superficialmente essa técnica, resolvi experimentar bastante. Com esse espírito, realizei artes me utilizando propositalmente de alguns dos vários métodos possíveis, desenhando direto com o lápis litográfico, pintando, raspando ou impermeabilizando partes da superfície com goma arábica etc., me preocupando menos com a composição artística final e mais com os efeitos daquilo que eu exercitava.
Ao contrário de outras técnicas, nas quais não se perde a matriz original – como é o caso da xilogravura e da gravura em metal que permitem que se faça novas impressões –, na lito, normalmente nos reutilizamos de uma mesma pedra várias vezes, “apagando” a imagem anterior para criar uma nova.
Compartilho aqui algumas das gravuras que consegui realizar, durante o tempo que estive estudando lá. As três primeiras, para minha imensa surpresa, hoje fazem parte do acervo do MARGS.
A bem de cima foi fruto de meu trabalho inicial, feita com lápis manuseado de diversas formas – de pé, e deitado, buscando texturas diferentes com maior ou menor pressão e controle, em traços mais finos ou mais grossos, mais suaves ou mais fortes. Não há “borracha” nesse tipo de processo: o que foi riscado não pode ser apagado, apenas se pode riscar ainda mais ou pintar por cima.
A segunda foi um desenho de observação da Adri, que estava sentada à minha frente, e nela resolvi testar como ficaria o uso de duas técnicas diferentes – desenho e pintura – e o efeito do contraste entre o riscado solto do lápis e as pinceladas de fundo mais controladas e bem definidas, criando uma padronização sobre um fundo preto, fechado.
Na terceira, decidido a testar vários procedimentos, pirei completamente: há raspagens direto na pedra; há pinturas mais aguadas e mais densas utilizando pincéis de vários tamanhos e tipos; há impressões diretas de minhas digitais; há zonas isoladas com goma e… sei lá mais o quê! O resultado não é nada mais do que simplesmente um pequeno mostruário – pra mim mesmo – de alguns recursos e seus resultados.
A próxima imagem, com a mãe e a criança, foi outro experimento. Resolvi testar a utilização de um lápis aquarela que era muito gostoso de riscar e que eu poderia aguar. Como a pedra trabalha fixando a gordura, Anico me preveniu que não era possível saber o que poderia ocorrer, uma vez que não se conhecia o nível de gordura contido naquele material. O resultado foi que há regiões em que simplesmente o pigmento não se fixou, como se pode observar na pintura do papel de parede.
Por fim, o gatinho mirando a Lua é uma das duas únicas impressões coloridas que realizei nessa técnica. Para acessar o acervo do MARGS, com mais informações sobre as gravuras: https://www.margs.rs.gov.br/catalogo-de-obras/D/44567/
Ah , meu querido, eu não sabia dessas tuas andanças!!!
Maravilhosos trabalhos…
Lu amada, gracias! <3
Dudu, eu gosto dos teus desenhos há bastante é só agora vejo a saber que o resultado é fruto não só do talento mas também de muita dedicação. Parabéns. Multiartista de primeira linha.
Dudu, és muito talentoso! Baita artista!
eh, Pedrinho, que bom saber disso… obrigado! esse blog, tu sabes, tem a ver com uma dica tua de eu reunir alguns de meus “riscados” num lugar que as pessoas possam acessar, curtir. valeu pela ideia e pela tua apreciação! 🤗abraço grande!
Marcelinho querido, te devolvo o elogio e admiração! ⚘🌿Abraço grande!
Dudu! Tudo o que vens colocando aqui e nos dando a oportunidade de conhecer é de uma grandeza e qualificação ímpar! Obrigado por compartilhar essas riquezas! Grande abraço.
Marta querida, que coisa boa, isso… mais uma vez, obrigado por teu retorno. beijos!
Tudo que fazes encanta, obrigada por compartilhar mais essa faceta artística, eu conheci alguns desenhos teus num material didático do planetário. Parabéns
Carla querida… obrigado! 🙂 tem mais postagens aqui no blog com outras produções. em breve vou compartilhar algo dos tempos do Planetário. beijos!