Promessa de vida no meu coração

O dia nasce nesse lugar extraordinário. Traz sua força e novidade na singular e exuberante beleza, em toda a sua imensa variedade, nas cores e tonalidades sem fim, nas formas, na atmosfera e no silêncio que favorece a contemplação, que acalma a alma e harmoniza os pensamentos. Tudo o que existe aqui de natureza transborda, nos completa e nos permite apreender melhor o que somos. 

Há pouco passamos apenas cinco dias nesse paraíso e nos sentimos renovados, fortes, saudáveis, felizes. Aqui a promessa de vida no coração — como refere a canção de Tom Jobim — felizmente ainda se renova a cada ciclo do Sol.

Porém, sentimos também como ele está constantemente sob ameaça e o tanto que, no curso de pouco tempo, seu bioma já perdeu da abundante variedade. 

Quando vínhamos para cá, há pouco mais de 30 anos, nos recebiam as corujinhas, cada uma sobre um poste, em todos os caminhos. Agora — imensa tristeza! — não avistamos uma sequer. 
As lebres que corriam no meio da praia, na baixa e concentrada vegetação litorânea que abrigava inúmeras formas de vida, há muito se foram. Nem os lagartos, cuja presença sempre foi constante, conseguimos mais encontrar. 

Os pequenos caranguejos branco-amarelos, chamados de Maria Farinha, que pululavam na areia e faziam suas tocas sempre atentos e próximos aos banhistas, também despareceram. Os bugues, veículos que agora viajam ininterruptamente, todos os dias, pra lá e pra cá, sobre a areia praia, escorraçaram esses pequenos animais de seus ecossistemas. A praia virou uma rota e território para esses carros.

Mas quem tem olhos pra essas perdas, quem se importa com elas? 

As poucas fotos que posto aqui, são algumas das centenas e centenas que já tirei nesse paraíso de Santa Catarina. Meu amor por esse universo é infinito e minha dor por vê-lo cambiar e perder tanta riqueza, pouco a pouco e quase sem freios, também.