Figura e compleição indisfarçáveis, casa, casca e identidade inescapáveis — o corpo nu é inato e singular. Pode ser ou se apresentar denso, frágil, sensual, cômico, forte, encantador, perturbador, misterioso, animado, triste ou em tantos outros estados.
A nudez, nossa condição primordial, sempre foi matéria básica nos cursos de artes. Compreender estruturalmente a forma humana — os volumes originados por sua constituição, através de feixes de músculos, articulação dos ossos, da carne e suas dobras, saliências e reentrâncias, pelo que se mostra na superfície da pele e o modo como isso se revela, se manifesta e se transmuta sob distintas incidências de luz — é um meio para se apreender o caráter plástico do corpo e captar melhor sua expressividade.
Quando a gente se detém a observar, tudo na linguagem corporal é arrebatador: a manifestação dos olhos, o detalhe de um torso, uma postura instigante, um movimento engraçado, comovente ou elegante etc. E uma das coisas que mais encantam nessa perspectiva é justamente a quebra de paradigmas em relação a padrões de beleza, uma vez que todo corpo é pleno de atributos plásticos.
Através da arte, o olhar prospera, se expandem os sentidos, se acuram as percepções. Explorar as peculiaridades de um corpo interpretando-o pictoricamente nos permite alcançar em alguma medida aquilo que é mais significativo e que está além da simples representação ilustrativa, que é a poesia da forma.
No meu tempo de academia (e de juventude) no Instituto de Artes, fiz alguns exercícios de observação com modelos nus a partir de diversas propostas, dimensões e materiais. Por não se ter muito tempo para a execução é preciso certa agilidade e, também por isso, os traços variam muito, podendo ser simples linhas, rabiscos ou desenhos um pouco mais elaborados.
São alguns desses esboços que compartilho aqui. A maioria é de 1983 e resultado de práticas em cadeiras de começo de curso. Um que outro foi feito fora da escola e há quatro estudos de 1986, produzidos durante a elaboração de meu projeto de graduação, para as composições de dois trabalhos: “Narciso” e “A Prostituta” (ver a postagem anterior: “Artes, histórias e ideias”).
Que singularidades! Lindo! Parabéns! 🙏
obrigado, Carla! 🌸⭐