o amor é de longe e de perto
nosso corpo fechado e aberto
o ardor dormente e desperto
nosso porto habitado e deserto
o olhar é raso e profundo
nosso gosto fino e vagabundo
o conselho infértil e fecundo
nosso lar o quintal e o mundo
o espanto é com nada e com tudo
nosso grito grave e agudo
o conflito pequeno e graúdo
nosso dito a lança e o escudo
a ideia aprisiona e liberta
nossa mira erra e acerta
a canção adormece e desperta
nossa dor encobre e alerta
a idade agrava e depura
nossa ânsia retarda e apura
a verdade envenena e cura
nossa rédea solta e segura
a vontade ergue e arruína
nossa ação deseduca e ensina
a ilusão fenece e germina
nossa história começa e termina
o encanto é de noite e de dia
nosso pranto alívio e agonia
o argumento desvio e via
nosso pulso tristeza e alegria
o percurso é curto e comprido
nosso impulso livre e reprimido
o sentido encontrado e perdido
nosso rastro oculto e conhecido
o destino é chegar e ir embora
nosso gesto atrasado e na hora
o momento adiante e agora
nosso tempo é breve e se demora
tudo pode ser uma surpresa
o princípio dita a natureza
a mudança se alcançará
que a dádiva a vida dá
(ouça essa canção no Spotify/Dudu Sperb)
foto: Jardin des Plantes (Paris)